Deusa Arianrhod

Arianrhod

Arianrhod, Deusa da Roda de Prata, é uma deusa galesa da Lua Cheia, reside em seu reino Caer Arianrhod localizado na constelação Corona Borealis, para lá ela leva as almas dos desencarnados, onde ficam até a próxima encarnação e os poetas aprendiam sua arte. Ela era descrita como uma bela mulher de pele alva e cabelos prateados, e tinha o poder de se metamorfosear em uma grande coruja e com seus olhos conseguia ver através da escuridão, tanto da noite, quanto da alma e do subconsciente humano.

A história mais conhecida de Arianrhod encontra-se no Mabinogion, um conjunto de manuscritos galeses medievais, havia o rei Math que, para manter sua coroa e sua soberania, precisava estar sempre com os pés descansando no colo de uma virgem, após sua sobrinha deixar o posto por ter tido sua virgindade brutalmente arrancada, seu sobrinho Gwidion, irmão de Arianrhod, a leva para assumir a função, e, ao ser questionada sobre ser virgem ela confirmou, então o Rei quis testar, fazendo ela andar em cima de um bastão, ao subir no bastão, cai uma criança do meio de suas pernas, Dylan, que rasteja até o mar e nunca mais é visto, furiosa por ter sido enganada e exposta, ela foge do local, deixando cair no caminho mais um filho, que seu irmão Gwidion pega e leva até ela, que rejeita a criança, e amaldiçoando seu filho, que nunca teria um nome até que ela o desse um, porém, com o menino já crescido, ele e o tio conseguem contornar a maldição, e sem saber ela dá ao menino um nome, enfurecida por ter sido enganada novamente, ela joga outra maldição para que o menino nunca seja armado, a não ser que ela arme ele, esta também eles conseguem contornar, fazendo com que ela dê a ele armas achando se tratar de um guerreiro desconhecido, jogando assim a terceira maldição, na qual ele nunca teria uma esposa que nascesse na Terra.

Vamos agora fazer uma breve análise dessa história, com alguns apontamentos que eu achei pertinentes, lendo um texto pela autora Mirella Faur no site Teia de Thea, como introdução ao assunto, ela diz:

“O mito de Arianrhod - registrado na coletânea de textos galeses Mabinogion (escritos entre os séculos XI e XIII) - é muito complexo, com elementos contraditórios e de difícil compreensão, denotando as deturpações feitas pelos monges e historiadores cristãos da interpretação das lendas da tradição oral dos bardos. As antigas verdades ficaram ocultas entre as linhas e prevaleceram os conceitos misóginos e patriarcais cristãos, que condenavam e perseguiam atitudes e valores especificamente femininos, considerando a liberdade sexual da mulher como um pecado e perigo para a pureza da alma cristã, que devia ser combatido e punido.”

E durante a história, ela aponta as seguintes questões: Arianrhod foi levada por seu irmão para ser a donzela que serviria de repouso para os pés do Rei, apesar de seu poder como Deusa e de sua realeza, ela foi tirada de sua real função e teria sido colocada para passar todo o tempo servindo ao seu tio, o segundo ponto é sobre a virgindade que ela afirma ter, é importante destacar que virgindade no ponto de vista matriarcal não tinha haver com sexualidade, e sim com a independência e autossuficiência de uma deusa, então sim, Ariarnhod era uma deusa virgem, ela era independente e desempenhava seu papel sozinha, não precisava de um parceiro para isso. Agora sobre o último ponto, vou fazer mais uma citação direta à Mirella, que é o seguinte parágrafo:

“Don, sua mãe, tinha escolhido seus parceiros e pais dos seus três filhos de acordo com a lei antiga, quando a rainha escolhia e demitia seus consortes, sem criar vínculos de casamento. Arianrhod pode ter seguido o exemplo materno, permitido pela lei matriarcal, que era de acordo com a sua maneira ”virgem” de viver, morando só no seu castelo e fazendo amor com marinheiros nas praias, nas noites de lua cheia (a

metáfora da Lua mergulhando no mar). Uma explicação da atitude do seu irmão ao recomendá-la ao rei como sendo virgem, seria que Gwydion queria declarar a sua paternidade perante todos (o incesto entre herdeiros reais era permitido para garantir a sucessão). Outra hipótese era que a gravidez e o parto repentino de Arianrhod não eram fatos reais, mas miragens criadas pela magia conjunta do irmão e do tio. O objetivo era expor Arianrhod como uma mulher pouco confiável na linhagem do trono e fazê-la ir embora, deixando a sucessão para Gwydion. Por ela ser a primogênita e reconhecidamente poderosa, Arianrhod era uma ameaça para o poder masculino e por isso devia ser ridicularizada e banida, reforçando assim a hierarquia real e divina masculina.”

Como uma leitora frequente dos livros da Mirella, posso dizer que ela nunca falha em apontar essas questões, como muitos dos mitos de culturas que passavam suas histórias de forma oral foram passadas para escrita apenas após o advento do cristianismo, o que ocasionou numa perda muito grande de elementos histórico-culturais e deturpação não só das deusas, mas dos deuses também, que vieram a ser demonizados e transformados no diabo da nova religião, mas apesar de muito ter se perdido, muito também prevaleceu, temos acesso a informação hoje para ler uma história dessa e fazer uma análise além do superficial, e entender os pontos que estão nas entrelinhas, claro que se cavarmos mais afundo ainda, vamos encontrar muito mais detalhes, mas como esse não é o nosso foco, temos aqui o suficiente para entender a nossa Deusa da semana e que energia ela pode nos trazer.

Arianrhod é uma deusa que rege as iniciações nos caminhos da Magia, sendo regente da noite, ela é guardiã dos saberes ocultos e dos segredos, dizem que ela vive em seu palácio cercada apenas por mulheres (sacerdotisas), e alguns atribuem à ela a característica de tecelã, veremos o significado disso mais afundo quando abordarmos as Moiras da mitologia grega e as Nornes da nórdica, mas as tecelãs são as fiandeiras do destino, elas decidem e tecem o destino de todos os seres que vivem, inclusive dos deuses. É a responsável por recolher as almas dos mortos em batalha e levá-los em seu navio, o Remo Wheel, até Emania, onde ela decide o destino deles. Ela também é deusa do amor, da fertilidade, sexualidade, morte, reencarnação, sabedoria e renovação.

Beatriz Abreu.

créditos da imagem: Alméry Lobel-Riche