Nina Simone

Nina Simone

Essa semana vamos abordar uma mulher maravilhosa, que foi ativista na luta por igualdade racial nos Estados Unidos e expressava suas ideias através da música, uma que pra mim, é uma das mulheres que eu mais admiro no mundo, tanto como artista quanto como pessoa.

Nascida no da 21 de fevereiro de 1933, em Tryon na Carolina do Norte, Eunice Kathleen Waymon era filha de mãe empregada doméstica e pai marceneiro, que mais tarde, aos 20 anos viria a ser conhecida com o seu nome artístico, Nina Simone, que ao longo da sua vida vivenciou desde a alegria da glória até a solidão do esquecimento, mas nunca se perdeu de seus próprios valores em nome da indústria artística, e assim deixou seu nome marcado na música, não tem como ouvir ela cantar e não sentir a energia que essa mulher tinha.

Logo aos 6 anos ela começou a estudar piano, e aos 10 fez sua primeira apresentação num recital da sua cidade, fato que foi muito marcante na vida dela e mais um que seria decisivo para a escolha dela de emprestar sua voz para a luta dos seus semelhantes, pois no evento os pais dela tiveram que ceder seus lugares na primeira fileira para pessoas brancas. Anos mais tarde, foi recusada no institudo de música Curtis, localizado na Filadélfia, por ser negra, mas logo após ela assinou contrato com a gravadora Bethleen Records, com a qual lançou seus primeiros sucessos, e mais tarde assinou com a Colpix Recors, gravando alguns álbuns de estúdio e ao vivo, e posteriormente lançou materiais também com a gravadora Philips.

Alguns de seus clássicos que carregam na letra os seus ideais de igualdade e a sua revolta com a realidade na sociedade em que vivia, está Mississippi Goddamn, Four Women, To be Young, Gifted and Black, gravou também Strange Fruit, que inicialmente foi cantada por outro grande nome do jazz e do blues, Billie Holiday, e que virou um grande marco na música na história da luta negra, essa música foi inicialmente um poema com o nome "Bitter Fruit", publicado em 1937 no jornal The New York Teacher e escrito pelo professor Abel Meeropol, a letra fala sobre os linchamentos negros que eram comuns nos Estados Unidos na época, e mais especificamente, acredita-se que o que levou o autor a escrever o poema foi uma foto do linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith que aconteceu em Indiana em 1930, na imagem, há os corpos dos dois homens mencionados (negros) pendurados em uma árvore, e várias pessoas brancas em volta, vou colocar abaixo um trecho da letra da música traduzido para o português:

"Árvores do sul produzem uma fruta estranha,

Sangue nas folhas e sangue nas raízes,

Corpos negros balançando na brisa do sul,

Frutas estranhas penduradas nos álamos."

Strange Fruit - Billie Holiday

Sim, é forte e triste, era esse tipo de injustiça que pairava no coração de Nina, em 1969 ela deixou os Estados Unidos, cansada do racismo, e passou por países pela América Central, África e Europa, permanecendo na França por 10 anos.

Sua carreira eventualmente entrou em declínio por seu ativismo, já não vendiam mais ingressos para os seus shows, o público a havia abandonado, mas ela nunca desistiu de lutar, então abandonou a carreira e foi viver na Libéria, país localizado no continente africano, para assim estar entre seus semelhantes e finalmente poder viver sendo vista como igual, tudo o que ela queria era viver em paz. Anos depois, ela voltou para a França para tentar recuperar sua carreira, mas acabou cantando em bares de baixíssima renda e já não era mais reconhecida, mas, com ajuda de alguns amigos, consegue se reerguer.

Ao longo de sua jornada na Terra, Nina passou por inúmeros desgastes físicos e mentais pelo racismo, pelo peso que sua luta trazia, violência doméstica por parte do marido, com o tempo começou a apresentar comportamentos agressivos tanto no dia a dia quanto em apresentações, e mais tarde foi diagnosticada com bipolaridade, com o tratamento conseguiu se estabilizar, e deixou esse mundo em 2003, na França, morreu dormindo depois de uma luta árdua contra o câncer de mama.

Vou fazer uma citação direta a um artigo que li no site Reverb, o título é "COM VISCERALIDADE, NINA SIMONE DEU SENTIDO REVOLUCIONÁRIO E PROFUNDO À MÚSICA POPULAR" escrito por Vitor Paiva em 2018:

"Nina Simone jamais deixou de ser a “A Alta Sacerdotisa do Soul”, e mesmo nos momentos mais difíceis seguiu criando e cantando como ninguém. Ofereceu a própria vida e carreira em sacrifício para jamais deixar de afirmar que toda arte é política, e que o artista que se aliena também está se posicionando – para ela, criar e lutar eram, portanto, sinônimos."

Com certeza o que eu mais admiro na história dela é exatamente a insistência no que ela acreditava, nunca sucumbiu à supremacia branca que era (e ainda é) presente na indústria musical, se manteve sempre firme, apresentava uma personalidade forte, isso podemos ver em suas apresentações, em sua postura, expressão facial e na sua voz, ela era uma mulher que conhecia seu poder e não tinha medo de usá-lo, e hoje vemos que ela é atemporal, a luta dela há décadas atrás está em evidência hoje, com força e união, Nina já morreu, mas seu espírito vive, e a história dela nos diz: não desistam! Não se calem! Ela viveu em guerra com o mundo, mas eu acredito que isso a tenha feito viver em paz com ela mesma, e ela é e sempre será uma figura importante na comunidade negra. Nina cantou no enterro de Martin Luther King, a música é chamada Why ? The King of Love is Dead.

“Escolhi refletir o tempo e as situações nas quais me encontro. Para mim, isso é o meu dever, e neste momento crucial de nossas vidas, quando tudo é tão desesperador, quando cada dia é uma questão de sobrevivência, não tem como evitar se envolver. Jovens e negros e brancos sabem disso e é por isso que estão tao envolvidos com a política. Nós vamos moldar e dar forma a esse paísou ele não será modelado nem ter forma alguma. Não acho que há escolha escolha… Como ser artista e não refletir a época? Para mim, essa é a definição de um artista.”

Beatriz Abreu.