Yemanjá

Sonhei que estava na beira da praia,

Olhando as ondas do Mar,

No Céu, tinha muitas estrelas,

A Lua estava a brilhar,

Perdido no mundo eu estava, sem ter aonde ficar,

De repente uma voz me falou baixinho:

Tenha fé em Oxalá!

Era ela, nas ondas do Mar,

Que coisa mais linda,

Mamãe Iemanjá!

Era ela nas ondas do Mar,

Estendendo suas mãos,

Para me abençoar.

 

Yemanjá é a mãe dos mares, como conhecemos, mas em sua origem Yorubá, ela rege principalmente os rios, sendo assim, rege todas as águas. Em algumas tradições, ela é considerada mãe de todos os orixás, por isso comumente ouvimos que ela é "mãe de todas as cabeças". É uma Yabá, ou seja, uma orixá feminina, e embora seja muito cultuada aqui no Brasil, sua origem é africana, sendo cultuada em outros lugares também, como no Caribe e em Cuba.

Ela carrega com maestria a essência do feminino, tem as qualidades de mãe, ela é geradora, provedora de tudo que é necessário para viver e acolhedora nos momentos de desespero, orienta, conforta e também corrige duramente quando necessário, quando tudo parece incerto, chame-a para perto e deixe que ela te direcione e acalme o coração. Ela rege a família, o lar, o sentimento de união, seja ligado por laços de sangue ou não, e, sendo regente das águas ela também tem ligação direta com a Lua, conforme o trecho abaixo:

"Popularmente se tem associado a lua às águas, de maneira a mostrar

a influência daquela sobre estas através do fenômeno das marés. Lua e

água são substantivos femininos em português, tal como se lhe confere

um caráter puramente feminino tanto a uma quanto à outra. A mulher é

geratriz, a água também; a vida veio da água e a mulher concebe. A

mulher, a água e o peixe são símbolos ancestrais ligados à procriação e

que pertencem ao mesmo conjunto simbólico da fecundidade."(Câmara, 2009)

Sendo assim, ela também é guardiã dos mistérios, regendo o subconsciente, as emoções, a magia pode (e deve) ser invocada para ajudar na leitura de oráculos, é então considerada uma Mãe Lunar.

Iemanjá trabalha em nós o amor ao próximo, o cuidado e o carinho por todos em volta, a união e a paz dentro de casa e no convívio com familiares, para mim, ela sempre foi isso: amor puro, e também soberania, afinal, ela é rainha. Ao conectar-se com ela, você se sentirá amparada (o) e forte para encarar os problemas de cabeça erguida, será acolhida pela nossa Grande Mãe, que não necessariamente resolve seus problemas, mas te dá os ensinamentos para que você mesma possa resolvê-los.

Um belo exemplo de seu amor e cuidado, vemos na história a seguir, sobre a origem do orixá Obaluaê: "De acordo com a mitologia Iorubá, Nanã enfeitiçou Oxalá para conseguir seduzi-lo e engravidar dele. E ela conseguiu, entretanto quando Obaluaê nasceu, o menino tinha o corpo coberto de feridas e chagas. Obaluaê nasceu com varíola e seu corpo era completamente mal formado. Nanã não suportou a ideia de ter dado a luz a um bebê daquela maneira, e sem saber o que fazer com ele, abandonou-o à beira mar, para que a maré cheia o levasse.

Como se não bastasse o abandono e a doença, Obaluaê ainda foi atacado por caranguejos que se encontravam na praia, deixando a criança ferida e quase morta.

Ao ver a criança sofrendo, Iemanjá saiu do mar e tomou a criança em seus braços. Ela então levou-o para uma gruta e cuidou dele, fazendo curativos com folha de bananeira e alimentando-o com pipocas. Quando o bebê se recuperou dos graves ferimentos e das doenças, Iemanjá resolveu cria-lo como seu filho.

O corpo de Obaluaê ficou marcado por cicatrizes e marcas muito impressionantes, e por isso, vivia se escondendo para quem ninguém o visse. Em um dia de festa em que os orixás se reuniram, Ogum pergunta por Obaluaê e percebe que ele não quer aparecer por conta de suas feridas. Então, ele vai ao mato, faz um capuz de palha para cobrir Obaluaê dos pés à cabeça.

Ele então aceita aparecer e participar da festa com esse capuz, mas sem dançar, pois era um orixá muito fechado. Iansã então aproxima-se dele com o seu vento e sopra o capuz de palha de Obaluaê. Nesse momento, todas as feridas dele se transformaram em uma chuva de pipocas revelando o menino belo, sadio e radiante como o sol ele seria sem as mazelas de suas chagas.

Por causa de sua história de doenças e sofrimento, ele se tornou orixá das doenças, aprendendo com Oxalá e Iemanjá como curá-las.

Pela sua infância de abandono e sua vida escondendo suas chagas atrás das palhas, Obaluaê tornou um orixá muito sério, taciturno e compenetrado, que não gosta de risadas e bagunças, é um orixá sempre fechado." (Texto retirado do site WeMistic)

Embora aparentemente seja muito simples falar dela, quando mergulhamos em pesquisa percebemos que ela é muito mais do que a Orixá Regente dos mares, há muitas lendas sobre ela, assim como de todos os outros Orixás, e é muito fácil ler alguma coisa que contrarie a outra que acabamos de ler. Mas uma coisa é certa, ela é uma das divindades mais cultuadas aqui no Brasil, não precisa ser da Umbanda ou do Candomblé para se maravilhar com essa energia tão linda e sonhar em ir para Salvador nas comemorações a ela, afinal ela sempre está por aí, é só abrir o coração para sentir. A celebração a Ela é feita no dia 2 de fevereiro.

Beatriz Abreu.

NAS ÁGUAS DE IEMANJÁ: um estudo das práticas performativas no candomblé e na festa à beira-m

- Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo - Pierre Verger.

Conhecendo os Orixás - Solange Christtine Ventura

ar. Tatiana Maria Damasceno. - Tese de Doutorado.

Sereia Amazônica, Iara e Yemanjá, entidades aquáticas femininas dentro do folclore das Águas no Brasil. Yls Rabelo Câmara.

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